Um estudo inédito da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), publicado na revista Neurology, revelou que o consumo de álcool, mesmo em níveis considerados moderados, está associado a lesões cerebrais relacionadas à demência e à doença de Alzheimer. A pesquisa analisou dados de 1.781 autópsias de pessoas com 50 anos ou mais, falecidas entre 2004 e 2024. Os pesquisadores cruzaram informações sobre o consumo de álcool nos três meses anteriores à morte com indicadores de saúde cerebral e função cognitiva.

Os resultados mostram que indivíduos que consumiam oito ou mais doses de álcool por semana tinham 133% mais chances de desenvolver arterioloesclerose hialina — lesão nos vasos sanguíneos do cérebro que reduz o fluxo sanguíneo e pode levar ao comprometimento cognitivo. Mesmo o consumo moderado (até sete doses semanais) aumentou o risco dessas lesões em 60%.

Além disso, o estudo identificou maior presença de emaranhados neurofibrilares, acúmulos da proteína tau, associados ao Alzheimer, em bebedores e ex-bebedores pesados, com riscos aumentados de 41% e 31%, respectivamente. A pesquisa reforça que não há nível seguro para o consumo de álcool e que seus efeitos podem comprometer significativamente a saúde cerebral a longo prazo.